Castelo Miramare, o sonho de Maximiliano e Charlotte.
Quando comecei esse artigo sobre o Castelo, ele ficou tão grande que vou dividi-lo em dois. Aqui farei um resumo da trágica história de Maximiliano e Charlotte e mostrarei a beleza do Castelo Miramare. Em um segundo artigo, eu me aprofundarei com mais detalhes, na vida dos Imperadores do México no tópico História desse mesmo site. Aguardem!
Miramare é hoje o único lugar onde se sente a presença de Maximiliano de Habsburgo.
O castelo é o reflexo de sua personalidade e seus interesses.
Eu tive ocasião de conhecer a beleza do famoso Miramare que se localiza em Trieste, hoje província Italiana, mas por muito tempo fez parte da Áustria e posteriormente ao Império Austro-Húngaro.
O Castelo Miramare é circundado por um parque rico em raras espécies botânicas e constitui um patrimônio inimitável pela sua conformação e riqueza
Sua posição panorâmica é estupenda, situado na ponta do promontório Grignano que se alonga no Golfo de Trieste.
Miramare apresenta o fascínio das moradas dos oitocentos, conjugando a luz mediterrânea com uma atmosfera tipicamente nórdica.
Conhecer esses lugares significa aproximar-se de Maximiliano e também de toda a cultura da metade do século XIX que acompanhou o desenvolvimento de Trieste.
Ferdinando Maximiliano, conhecido como Max na família, nasceu no Palácio de Schönbrun, Viena , residência dos Habsburgos,no dia 6 de julho de 1832. Era filho do arquiduque Franz Karl e Sofia da Baviera. Dois anos antes havia nascido seu irmão Franz Joseph, primogênito do casal, que viria a herdar o trono da Áustria.
Maximiliano era muito diferente de seu irmão mais velho, muito inclinado à observação e extremamente culto.
Em 1850, faz uma viagem para a Grécia e Turquia com seu irmão menor, Karl Ludwig. Nessa ocasião conhece Trieste.
Em 1852, ele alugou uma villa sobre a Colina de San Vito: Villa Lazzarovich, que decorou segundo o seu gosto com muitas peças de arte, que futuramente farão parte do acervo do Miramare.
Nas suas numerosas viagens que faz ao Mediterrâneo, particularmente na Sicília, Portugal e Espanha, trará muitas ideias para o Parque de Miramare.
A partir de 1855, ele pensa em construir o Castelo sobre o promontório com a vista para a baia de Grignano e no seu entorno, um jardim, não só para seu bel prazer como também para experiências botânicas.
Em 1 de março de 1856 iniciou a construção do Miramare, projeto de Carl Junker.
Em 31 de dezembro desse mesmo ano, ele fica noivo de Charlotte da Bélgica, nascida em Laeken a 7 de junho de 1848, filha de Leopoldo I da Saxônia Coburgo Gotha e Luisa Maria d’Orléans.
Na primavera de 1857, Maximiliano foi nomeado por seu irmão, governador da Lombardia-Vêneto com poderes civis.
No verão se casa em Bruxelas com Charlotte. Reside em Milão, mas vai seguidamente a Trieste acompanhar a construção do Castelo Miramare.
Se por um lado Maximiliano se esforça para ser aceito pelo povo milanês, do outro lado se evidenciam os contrastes de natureza política com a corte vienense, além da perda da Lombardia em 1859.
Maximiliano e Charlotte vão para Trieste e residem no pequeno castelo (Casteletto) que já existia, porque a edificação maior só ficará pronta no Natal de 1860.
No outono de 1861, Maximiliano faz uma grande viagem ao Brasil, onde graças à sua riqueza e variedade botânica, catalogará algumas espécies de Aroideae (tipo de palma).
Sissi voltava da Ilha da Madeira, depois de uma longa estadia de seis meses. A Imperatriz recebe as boas vindas de Charlotte de Bélgica na marina do Castelo Miramare, onde vários Arquiduques austríacos esperavam-na. O Imperador Franz Joseph e seu irmão, o Arquiduque Maximiliano estão ainda no barco de bandeira inglesa que trouxera a Imperatriz até à marina. Nos fundos da pintura se tem uma vista do Castelo com a banda tocando em homenagem ao evento.
No retorno a Trieste e sem nenhuma perspectiva futura, o casal aceita a coroa do México: Napoleão III, de fato em 1861, achou que poderia resolver os gravíssimos problemas sociais e políticos do país e intervir com a ajuda da Igreja, essa já estava percebendo que os republicanos de Juarez estavam de olho nos bens eclesiásticos.
Eram motivos econômicos, mas também havia a vontade de trazer de volta a grandeza da Família Habsburgo do tempo de Carlos V.
Maximiliano e Charlotte assumiram o trono do México com as bençãos de Francisco José e Leopoldo I da Bélgica, mas com a contrariedade da mãe Sofia.
Em 3 de outubro de 1863, uma delegação mexicana liderada por José Maria Gutierrez de Estrada, proclama no Castelo de Miramare, Maximiliano, Imperador do México.
Em 14 de abril o casal zarpa para Vera Cruz no navio Novara, depois de ter recebido a promessa de ajuda militar e financeira por parte do Papa Pio IX, de Napoleão III e de Leopoldo I.
Alguns dias antes, Maximiliano renuncia a qualquer direito sobre a Coroa da Áustria.
No México, boa parte da população é republicana e não aceita a presença de Maximiliano.
E a ajuda econômica prometida, também não veio.
Maximiliano continua a acompanhar de longe e com profundo interesse, a construção da sua residência triestina com a convicção que iria retornar para o seu paraíso.
A situação política, no entanto, não está mais sob controle de Maximiliano. Em 1886, convenceu Charlotte a retornar para a Europa para pedir ajuda..
Durante a sua visita ao Papa, Charlotte apresenta os primeiros sinais de insanidade mental e se retira para o Castelo de Miramare, onde viverá reclusa.
Dizem alguns, que depois da morte de seu marido, ela mandava acender todas as luzes do Castelo às dezoito horas e ficava tocando piano por horas a fio.
Maximiliano com o General Miramon e Meja, são fuzilados em Queretaro, em Cerro de Las Campangnas , em 19 de junho de 1867.
O pintor Eduard Manet, impressionado com o trágico acontecimento, quase anunciado, mas por ninguém seriamente impedido, pinta quatro versões do fuzilamento, em sinal de protesto e retrata o pelotão de execução vestido com uniformes de soldados franceses.
“A notícia do fuzilamento de Maximiliano mal acabava de chegar a Paris quando Édouard Manet, cujas obras anteriores já tinham provocado muita discussão na sociedade francesa, se põe a trabalhar sobre o evento. Republicano convicto, contrário à ambiciosa política de Napoleão III que no México registrara mais um fracasso, o pintor produz, entre 1867 e 1869, três pinturas em escala monumental, um esquete a óleo e uma litografia retratando a execução. Feita com base em relatos escritos, gravuras e fotografias sobre o acontecimento assim como chegavam à França, escapando à censura do governo, a série mostra uma evolução na forma como Manet narra pictoricamente os fatos. No primeiro óleo, os soldados do pelotão de execução vestem uniformes de guerrilheiros mexicanos, enquanto já a partir da segunda tela o pintor muda os uniformes para que pareçam os do exército francês, sublinhando a crítica ao governo de seu país. O imperador enverga um chapéu mexicano, como o da fotografia tirada alguns meses antes da execução por um fotógrafo não identificado. Na pintura final, a obra de maior proporção e a definitiva, Manet acrescenta uma paisagem no fundo, com espectadores que retira de “Tourada”, uma de suas telas anteriores.(…)A litografia foi banida pelas autoridades e as telas nunca exibidas em Paris durante a vida do pintor. Ainda hoje são conservadas em museus estrangeiros (Boston, Londres, Copenhague e Mannheim/Alemanha).”
Em 1868 os restos mortais de Maximiliano, são trazidos do México para Trieste no mesmo navio Novara, e repousam agora na cripta dos capuchinhos em Viena.
Charlotte será levada para a Bélgica, onde morrerá em 1927.
Castelo Miramare
“Algumas das salas lembram as salas de comando dos antigos navios…e a madeira é o material principal na decoração.”
Maximiliano teve a sua juventude dedicada à Marinha austríaca.
“Uma das coisas que os triestinos fazem questão de salientar é que esse é um dos poucos castelos europeus onde os móveis e os objetos de decoração são em sua maioria, quase todos originais.”
Na parede sobre o leito, uma cópia em porcelana da Madonna Sistina de Rafael. Na decoração heráldica, identificamos o brasão de Maximiliano e Charlotte.
Na parede à direita temos um quadro pintado por Charlotte, executado sob a orientação de um mestre da pintura, o austríaco Bernard Fiedler.
Os apartamentos de Charlotte e Maximiliano se encontram no primeiro andar do Castelo Miramare.
O motivo do abacaxi que podemos ver sobre as paredes azuis, representa um símbolo de prosperidade e a âncora com a coroa são os símbolos do brasão do Contra-Almirantado da Frota Austríaca.
O interior do Castelo foi projetado por Franz e Julius Hofmann, decoração intimamente austríaca.
De todas as janelas, podia-se ver o mar e por isso tinha-se sempre a impressão que estavam a bordo de um navio. O casal veio pela primeira vez no Natal de 1860.
Vou terminar o artigo por aqui e devo a vocês a continuação do mesmo, onde me aprofundarei mais na História e ilustrarei com fotos da coleção de arte do Museu Histórico do Castelo Miramare.