“De Mandelstam para Stálin, um epigrama trágico” – Robert Littell

Literatura

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“Um poema começa com uma voz quase inaudível retinindo no ouvido, bem antes de as palavras se formarem” – Óssip Mandelstam ou Osip Mandelstam, nascido em Varsóvia em 15 de Janeiro de 1891 (faleceu em 27 de Dezembro de 1938), foi um poeta russo e um dos principais nomes do Acmeísmo.

“Vivemos sem sentir…”

Vivemos sem sentir a Rússia em baixo,
não se ouvem nossas vozes a dez passos.

Mas onde houver meia conversa
– sempre se há de lembrar o montanhês do Kremlin.

Seus grossos dedos são vermes obesos;
e as palavras – precisas como pesos.

Sorri – largos bigodes de barata;
e as longas botas brilham engraxadas.

Rodeiam-no cascudos mandachuvas;
seu jogo: os meio-homens que subjuga.

Um assobia, um rosna, um outro mia,
só ele é quem açoita, quem atiça.

E prega-lhes decretos-ferraduras na testa ou no olho,
na virilha ou nuca.

Degusta execuções como quem prova uma framboesa,
o osseta de amplo tórax.

1934      “Epigrama de Stalin”   Óssip Mandelstam

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Robert Littell é um profundo conhecedor da cultura russa e soviética , escreve um dos melhores romances   sobre Óssip Mandelstam , poeta russo nascido em Varsóvia em 1891 e que acabou por falecer num campo de prisioneiros stalinista em 1938, na Sibéria.

A Revolução Russa serve com pano de fundo, onde se alternam diversos pontos de vista, embora  não existam favores de cunho ideológico.

São sete vozes ouvidas nesse livro e elas pertencem a Nadejda Mandelstam, mulher de Óssip:

Nikolai Sidorovitch Vlassik,guarda costa particular de Stálin;

Fikrit Trofímovitch Shotman, campeão soviético de levantamento de peso;

Anna Andréievna Akhmatova, poetisa e amiga íntima de Mandelstam e de Boris Pasternak;

Zinaida Zaitseva Antonova, atriz de teatro e amiga íntima do casal; Óssip Mandelstam, o grande poeta russo do século XX;

Boris Pasternak, poeta  lírico.

Esse é um tempo de Blok , Maiakóvski , Akhmátova ,Tsvetáieva e Pasternak.

dl294&display&max=300 Marina Tsvetaeva

“Onde estão os cisnes ?
Os cisnes partiram
Ondes estão os corvos?
Os corvos ficaram.”   Tsvetaeva

“Amidst the dust of bookshops, wide dispersed
And never purchased there by anyone,
Yet similar to precious wines, my verse can wait
Its time will come”            Tsvetaeva

dl296&display&max=300Anna Akhmatova

“Se soubesses apenas de que entulho
A poesia surge
Um grito, um cheiro fresco de alcatrão,
Misterioso molde na parede,
E os versos soarão”

dl297&display&max=300Boris Pasternak

“A solidão. Os fariseus na Terra.
Viver é mais que atravessar um prado ”

(Do poema proibido de Boris Pasternak ” Hamlet “, que seus amigos leram        desafiadoramente em voz alta durante seu funeral em 1960)

dl298&display&max=300Óssip Mandelstam

“E cada um realizará com sua alma , como a andorinha antes do temporal, um vôo indescritível” – Mandelstam”

“Roubar-me os mares…”

Roubar-me os mares, ares, vôo, tolhendo

meus pés na terra atroz – foi o bastante?

Mas, malgrado o teu cálculo estupendo,

não me arrancaste os lábios murmurantes.

Vorôniej, maio de 1935                        Óssip Mandelstam