Jackson Pollock e Lee Krasner: amor,pintura,loucura
Jackson Pollock (1912- 1956)
Nasceu em 1912 em Cody – localidade do estado de Wyoming, nos Estados Unidos, fundada por “Buffalo Bill”. Era o mais novo de cinco filhos de uma família da classe trabalhadora. As dificuldades financeiras e o clima de instabilidade, obrigaram a família a ter uma vida nômade: além de Cody, a família Pollock viveu em Phoenix, Arizona (1913 e 1923); Chico, Califórnia (1917); Janesville , Califórnia (1919); Orland, Califórnia (1921); Riverside, Califórnia (1924) e Los Angeles (1928).
Abandonado pelo pai aos nove anos e pouco apoiado pela mãe, o hipersensível Jackson cresceu mergulhado em sentimentos de medo, instabilidade e baixa auto-estima, todos agravados na adolescência. Os casos de indisciplina escolar sucediam-se à medida que a dependência do álcool aumentava. Fora um período de dois anos em que foi acompanhado por psiquiatras, o consumo excessivo de bebidas foi um hábito do qual nunca conseguiu se libertar.
O grande sonho de Pollock era ser pintor. Sempre acreditou que poderia ter sucesso nesta profissão, apesar de ter consciência de que só seria possível concretizar o seu sonho se fosse viver em Nova Iorque. Com esse intuito, mudou-se para a “Big Apple” em 1930, onde frequentou as aulas de Thomas Hart Benton na Liga dos Estudantes de Belas Artes.
Primeiro na Califórnia e depois em Nova Iorque, nas aulas de Benton, Pollock conheceu os trabalhos dos muralistas mexicanos Diego Rivera e David Alfaro Siqueiros. Interessou-se pela pintura monumental dos murais mexicanos, pelo impacto visual das cenas épicas e do ativismo político que representavam. Mas a grande influência viria de Siqueiros, que impressionou Pollock com a originalidade de alguns dos seus materiais e das suas técnicas, entre eles a tinta de esmalte, o “dripping”, o “pouring” e o “airbrushing”. Mais tarde, a carreira artística de Pollock recebeu influências cubistas de Picasso e pós-cubistas, de Miró.
Os primeiros anos de carreira foram difíceis e Pollock teve de conciliar o seu trabalho no Federal Art Project – um programa de apoio às artes visuais promovido pelo Estado, no qual permaneceu de 1938 a 1942 – com outras atividades.
Ao lado da carreira artística, iniciou em 1939 uma terapia para combater o alcoolismo, através de consultas com um psicanalista da escola de Jung. O conceito de “inconsciente coletivo” vai, a partir daqui, influenciar profundamente a sua obra.
O sucesso
O grande salto na carreira de Pollock deu-se na década de 40, quando o pintor conheceu aquela que, mais tarde, se tornaria sua mulher: Lee Krasner, artista ligada à arte abstrata. Krasner apresentou Pollock a personalidades influentes do mundo artístico, entre as quais se destacaram o pintor abstrato Willem de Kooning, a colecionadora de arte moderna Peggy Guggenheim e o crítico de arte Clement Greenberg.
Após conhecer o trabalho de Pollock, Peggy Guggenheim contratou-o para expor na sua galeria com um ordenado mensal que lhe permitiu dedicar-se em tempo integral à pintura. Pollock também realizaria, na galeria de Peggy Guggenheim, uma série de exposições individuais. Além disso, a coleccionadora convidou-o a pintar um mural para a entrada da sua casa de Nova Iorque.
Jackson Pollock e Lee Krasner mudaram-se para East Hampton (Long Island) em 1945, a sudeste de Nova Iorque. Ele entregou-se de corpo e alma à sua arte. Libertou-se da bebida por uns tempos e substituiu a agitada vida noturna de Nova Iorque pelo sossego e inspiração do seu estúdio, encantado com seu relacionamento. Abandonou o cavalete e passou a colocar no chão telas de dimensões gigantescas. Para além das técnicas de “dripping”, “pouring” e “airbrushing”, utilizou o vidro e a areia como materiais. Criou imagens que não se esgotavam nos limites das grandes telas, num estilo “all-over”. Demoliu os limites impostos pelo cubismo, dando origem a um movimento artístico que ficou conhecido por Expressionismo Abstrato e que veio dar credibilidade à pintura americana do pós-guerra. A forma de pintar de Pollock ficou conhecida por “action painting”.
Apesar do automatismo aparente a que estava associado o seu estilo, Pollock recusava o acaso, assim como o princípio e o fim das coisas. Para ele, as suas pinturas sofriam de um automatismo inicial, mas depressa este dava lugar a um ritual de dança que reunia o como e o porquê, os meios e os fins, o método instrumental e a mensagem expressiva. A característica principal das pinturas de Pollock é a unidade, com a particularidade de serem feitas diretamente, sem esboço. A imagem – abstrata – é construída à medida que vai sendo executada.
Depois da galeria de Peggy Guggenheim, Pollock expôs noutras galerias, sempre aplaudido pelos críticos e pelo público em geral. Dois dos seus trabalhos de grandes dimensões mais famosos foram ” One: Number 31″ (1950) – tela pintada a óleo e a tinta esmalte – e “Autumn Rhythm: Number 30” (1950) – tela pintada a óleo.
Lee Krasner ( 1908- 1984 )
Lee Krasner foi uma pintora radical da primeira geração dos pintores do Expressionismo Abstrato. Durante seis décadas dedicadas à arte, ela explorou sem descanso técnicas inovadoras na pintura e na colagem.
Lee Krasner
Nasceu em Nova York, no bairro de Brooklin em uma família judia ortodoxa russa. Estudou arte em diversas Instituições em NYC e também com o influente pintor alemão, abstrato Hans Hofmann. Trabalhou com projetos de arte e foi membro ativo da União dos Artistas Abstratos Americanos.
Em 1945 casou-se com o famoso, mas problemático pintor Jackson Pollock. Ela ficou na sombra por amor a Pollock, apesar de ser bem-sucedida e reconhecida no meio artístico. Foi graças a ela que ele conheceu Willem de Kooning, famoso pintor abstracionista alemão e ao crítico Clement Greenberg, entre outras personalidades do meio.
Durante seu casamento, ela desenvolveu uma série de pinturas “Little Image Paintings”. Apesar de serem pequenas, foram consideradas sua maior contribuição à Pintura Abstrato-Expressionista.
Quando seu casamento de onze anos terminou com a morte trágica de Pollock em um desastre automobilístico, Krasner dedicou o resto de sua vida a promover a arte de Pollock e continuar seu próprio trabalho. Em 1978 Krasner finalmente foi reconhecida como pintora do nível de Pollock, Rothko e outros.
Spring é uma pequena cidade em East Hampton em Long Island:local do studio/casa do casal Pollock-Krasner.
Peggy Guggenheim foi a benfeitora que proporcionou a oportunidade da mudança de NYC para Long Island, numa casa antiga, num terreno incrível com vista para a reserva natural Accabonac Creek.A velha casa não tinha aquecimento, nem água. A sorte foi que logo vieram outros artistas e juntos formaram uma comunidade que foi se abastecendo.
Neste ambiente tranquilo, o casal criou algumas das obras mais célebres do Expressionismo Abstrato. Porém, foi aqui também o palco de muitas discórdias e brigas entre os dois. Ela aceitou ficar à sombra dele, mas isto a tornou insuportavelmente possessiva.
Mesmo após a morte do marido, ela continuou se dividindo entre NYC e Spring. Pintava nos dois lugares.
Hoje é possível fazer uma visita guiada ao Studio-Casa entre os meses de maio e outubro.
Nas fotografias, Pollock é um pintor-ator que se movimenta sobre a tela, na penumbra do seu estúdio, como se estivesse em um palco, e executa movimentos dramáticos ao pintar, entre explosões de criatividade e períodos de tensão. Alguns colunistas da época chegaram mesmo a considerar que a fama de Pollock se devia mais ao glamour e à teatralidade das fotografias de Namuth do que às telas do próprio artista.
A partir de 1950, a produção artística de Pollock entrou em declínio. O pintor perdeu a inspiração, entrou em estado depressivo e refugiou-se de novo no álcool. O seu casamento desfez-se e a sua pintura deixou de fazer furor. Morreu em 1956, aos 44 anos de idade, quando o carro que conduzia – em estado de embriaguez – se despistou e bateu contra uma árvore, a um quilómetro da sua casa de East Hampton. A morte violenta do pintor transformou a história da sua vida numa fábula trágica.
Hoje em dia, Pollock continua a ser louvado pela crítica e pelo público em geral, que o reconhecem como um dos maiores pintores modernos. A sua maneira de pintar tornou-se uma marca inconfundível da sua obra.
“Eu não pinto a natureza, eu sou a natureza.”
―Jackson Pollock
Filme
Biografia de Jackson Pollock vai da fama à decadência
“Pollock”, último filme da coleção DVDteca Folha, é uma biografia que acaba, como quase sempre neste gênero cinematográfico, pedindo grande empenho dos seus atores. No caso, o diretor e protagonista Ed Harris, cuja atuação (brilhante) foi indicada para o Oscar, e Marcia Gay Harden, que obteve a estatueta de melhor atriz coadjuvante.
Diferenciado também é o viés escolhido por Harris, que por dez anos se preparou para levar às telas a história do genial pintor Jackson Pollock (1912-1956).
A fascinação nasceu pela semelhança física entre ambos, e daí, claro, o reconhecimento do ator de que a arte pictórica de Pollock foi das maiores expressões norte-americanas do século 20. Com equipe e elenco acertados, decidiu também ficar responsável pela direção do longa.
Na vida real, Jackson Pollock foi o grande expoente do “acting painting”, vingado a partir do expressionismo abstrato, escola artística na Nova York dos anos 40 e que foi sua formação.
Pollock, então, pintava sob essa influência até, por volta dos anos 50, começar algo mais visceral, que utilizava quaisquer instrumentos além do pincel, como colheres e pedaços de pau. Pinceladas, riscos e tintas escorridas sobre a tela, que ficava no chão, eram ações comuns e vistas até nas capas dos discos do saxofonista Ornette Coleman. Usuais e nascidas intuitivamente de Pollock, quando, do nada, ele deixou gotejar tinta sobre a enorme tela que pintava e viu, ali, uma nova expressão artística.
Essa primeira vez está numa belíssima seqüência de “Pollock”, que, ao mesmo tempo que exalta a genialidade de seu biografado, também mostra o quanto há de comum nas passagens de sua vida, até o fatal acidente de carro. E seu alcoolismo e pulsão de morte, que o levaram ladeira abaixo, da fama à decadência.
Complexidade
Sua mulher, a também artista plástica Lee Krasner (Marcia Gay Harden), ao mesmo tempo em que largou seu trabalho por amor a Pollock, acabou sufocando-o. Assim como os descaminhos do artista, que ora estava bem e com sua fúria controlada, ora arrasado pelo álcool e pela depressão.
Essa ambigüidade e complexidade dos personagens agradou ao público e à crítica. Há tanto uma câmera que assiste fascinada ao processo criativo do pintor como o registro das suas fraquezas como homem.
Na verdade, Ed Harris sofreu para fazer a versão que pretendia para o seu filme, baseada no livro de Steven Naifeh e Gregory White Smith. Desentendendo-se com não poucos produtores, a cada novo contrato ele tinha que negociar qual montagem teria seu longa-metragem.
No mais, Ed Harris fugiu da glamourização comum a várias biografias cinematográficas para dar espaço a um certo realismo, optando por um tom mais sóbrio nas cenas e deixando a força toda nas obras de Pollock que são mostradas ao longo do filme.
2 comments
Thank you very much!
Que maravilha de post Silvana!
Quantos desafios e obstáculos superados, tanto na arte como na vida, tanto do casal como individualmente.
Muito interessante o envolvimento de Ed Harris com o projeto e realização do filme, bem como com a obra de Pollock.
Merciii!
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