Mirna Fracalossi fala sobre Edward Hopper na Sala de Visita
MEU ENCONTRO COM EDWARD HOPPER 1882-1967
As poucas telas de Hopper que eu já hava visto aqui na AAC já tinham me chamado a atenção, mas foi só quando me deparei com o documentário EDWARD HOPPER E A TELA EM BRANCO, que eu me apaixonei por seu trabalho, pude conhecer e assimilar com maior profundidade a obra e a ‘persona’ deste que foi um dos artistas norte-americanos mais conhecidos do século XX.
Nascido em Nova York em 1882, de família de classe média, Hopper foi desde a infância um solitário. Sua familia sempre o apoiou no caminho da arte, então frequentou a NY School of Art de 1900 a 1906 e após completar os estudos trabalhou por um breve período como ilustrador comercial .
Entre 1906 e 1910 ele fez três viagens à Europa, leia-se Paris, que tiveram grande influencia no futuro do seu trabalho e no tipo de arte que ele seguiria na carreira. Paris, sua arquitetura, sua luz, sua tradição artística, influenciaram decisivamente seu desenvolvimento. O seu encontro com o Impressionismo foi decisivo. Em 1910, retornando de sua terceira viagem a Paris, decidiu que ficaria nos Estados Unidos.
Casou-se em 1923 com uma colega da NY Academy, Josephine Nivision, com quem teve uma relação conturbada a vida inteira. Ela também era pintora e muito ciumenta, não permitia que outras mulheres posassem para ele, então serviu de modelo para quase todas as suas telas. Compraram uma casa na colina, de um extremo da casa ele contemplava as montanhas, de outro extremo ela contemplava o mar…não se entendiam mesmo, mas permaneceram juntos..
Hopper era contemplativo, procurava se comunicar através dos fenômenos naturais, o principal tema de sua obra é a obsessão pela luz do sol em sua forma natural. Sempre perseguindo a estranheza da mundanidade, seu estilo não foi afetado pelos movimentos contemporâneos da arte européia nem pela abstração americana.
Suas figuras humanas são anônimas e reservadas, belas e silenciosas como paisagens. O realismo de Hopper flagra e capta o interior de cada uma delas num café, sozinhas na entrada de um cinema, num quarto de hotel, no trem, tomando sol. Por algum motivo, mesmo quando as pessoas estão juntas em suas telas, permanece a sensação de solidão. Figuras melancólicas ou que sugerem aflição, interiores urbanos retratando a solidão da sociedade norte-americana sensibilizada pela Segunda Guerra Mundial… assim são os quadros de Hopper. Mostrando a calma que precede a tempestade, nos leva a pensar ‘no que vai acontecer a seguir…’. Para Hopper, ‘o importante em um quadro, não pode ser explicado’.
Em 1967 Hopper foi convidado a representar os Estados Unidos na 9 BIENAL DE SÃO PAULO, com uma sala especial, mas veio a falecer alguns meses antes, transformando aquilo que deveria ser a primeira apresentação internacional de um eminente pintor vivo norte-americano em uma exposição ‘ in-memoriam’.
‘A tela em branco dá medo, porque podemos por muita coisa nela…ou nada.’
Olhando para a xícara de café…a mulher tanto pode estar chegando ou saindo do trabalho, ou de um evento social.
A mulher sozinha na ante-sala do cinema, esperando alguém, apática…
Cena de restaurante em NY, visto da rua, casal à mesa conversando, a mulher no caixa e outra mulher ajeitando a vitrine
Uma mulher olhando uma revista na cabine do trem, nada parece chamar a sua atenção além dessa leitura.
Uma mansão isolada. Hopper era um cinéfilo assumido e transpunha para essas paisagens os truques de mistério e suspense utilizados no cinema. O contrário também acontecia, como por exemplo em 1960, quando este quadro inspirou Alfred Hitchcock na criação do Hotel Bates do thriller ‘Psicose’.
O homem lendo o jornal enquanto a mulher distraidamente dedilha o piano
Texto e fotos por Mirna Fracalossi