Mona Hatoum questiona, provoca e sabe também poetizar com a sua ARTE.
Nasceu em Beirute, no Líbano em 1952. Desde 1970, ela vive entre Londres e Berlim.
Já apresentou individuais no Centre Pompidou (1994), Tate Britain (2000), Kunsthalle, em Hamburgo (2004), Museum of Contemporary Art, Sidney (2005) e Palazzo Querini Stampalia, no contexto da Bienal de Veneza (2009). Em 2011, foi vencedora do Prêmio Joan Miró, quando realizou uma exposição individual na Fundação Joan Miró, em Barcelona. Nos próximos meses estão agendadas mostras em Paris, Londres e Helsinque.
Sua família exilou-se no Líbano, depois da ocupação israelense da Palestina, em 1948, mas nunca conseguiram documentos libaneses, só tendo recebido a nacionalidade britânica através de relações de trabalho de seu pai com a embaixada.
Mona Hatoum fez a sua primeira viagem para Europa em 1975. Quando estava em Londres, eclodiu a guerra civil libanesa e ela ficou impossibilitada de voltar a Beirute. Separada de sua família por 15 anos que foi a duração do conflito, Mona Hatoum resolveu estudar artes e foi aí que tudo começou.
O estranhamento é o efeito esperado para quem entra em contato com a arte de Mona Hatoum, uma das mais importantes artistas da atualidade. Não é para menos. As peças falam de política, opressão, violência e ironia. Com a curadoria de Chiara Bertola, coordenação curatorial de José Augusto Ribeiro e Natasha Barzaghi Geenen, a exposição com 30 trabalhos é a primeira individual da artista na América Latina. Estação Pinacoteca, São Paulo
Na obra “Over My Dead Body” (Por cima do meu cadáver): Rosto da artista encarando um soldadinho posicionado no seu nariz que parece ameaça-la .
“ Em Globe, podemos associar a estrutura em grade ao globo terrestre e suas divisões imaginárias em meridianos e paralelos. O posicionamento da obra reproduz o eixo de inclinação da Terra, mas, diferentemente de um globo terrestre, não há indicação de continentes ou países. Mais do que puras formas geométricas e abstratas, a aparência deste globo pode remeter à múltiplos significados, tais como o das arquiteturas de espaços para prisão e confinamento, ou às estruturas em rede que refletem conexão e aproximação entre as pessoas, especialmente no mundo contemporâneo” Tatiane Gusmão e Mila Chiovatto.
“Present Tense é uma obra realizada por Mona Hatoum para uma exposição em Jerusalém, em 1996. Todos os materiais usados nessa composição foram escolhidos pela artista durante a estadia no local, prática comum em seu processo de trabalho. Ela utilizou 2.400 blocos de sabão de Nablus, cidade ao norte de Jerusalém que produz um tradicional sabão palestino feito principalmente com óleo de oliva e água. As contas de vidro vermelhas foram compradas no souk (mercado popular das cidades no Oriente Médio) da cidade velha de Jerusalém. Com elas, Mona Hatoum desenhou o território palestino definido em 1993 pelos acordos de Oslo, cartografia que propunha a fragmentação das comunidades palestinas em regiões isoladas uma das outras. Com a figura do mapa, a obra pode gerar indagações sobre os limites entre os territórios, a instabilidade das fronteiras e a impossibilidade de união das nações”. Tatiane Gusmão e Mila Chiovatto.
Soldadinhos de brinquedo, dispostos para formar o símbolo do infinito, ao mesmo tempo parecem caminhar continuamente para lugar nenhum. A referência à guerra e à violência sem fim, é associada à brincadeira de criança, colocada sobre um banco , móvel banal, cotidiano, como se estivesse dentro da sala da nossa casa. Infância, guerra e espaço doméstico aparecem relacionados aqui.
O pendente Misbah exposto na Fundação Querini Stampalia, em Veneza. A obra projeta nas paredes estrelas e soldados apontando armas para pessoas indefesas.
A projeção de sombras de Misbah fica em rotação, como em uma lanterna mágica.
“Relações de familiaridade e estranhamento são frequentes em várias obras de Mona Hatoum nas quais o caráter estranhamento é sugerido. Nestas duas obras, raladores tem sua escala ampliada e transformam-se em um biombo e um divã.”
“Objetos que deveriam servir para o seu conforto e bem estar, extensões do corpo no ambiente doméstico, tornam-se ameaçadores e agressivos.
É como se a artista nos lembrasse que não há segurança e estabilidade real em nosso mundo, numa atitude que questiona as verdades estabelecidas colocando-as em posição de dúvida e ambiguidade.”
Sonhando acordado, 2014, tecidos bordados, fio de náilon e pregadores de plástico, 249 x 285 x 550 cm. A instalação foi criada em parceria com mães de crianças ligadas à Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração (ACTC)
Na obra Sonhando Acordado, a artista pediu às mães que escrevessem e desenhassem seus sonhos e desejos nas fronhas. Qual seria o seu maior sonho?
A instalação Sonhando Acordado é composta por 33 fronhas bordadas por mães de crianças atendidas pela Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração (ACTC). Hatoum conheceu o trabalho destas mulheres em 2010, quando veio pela primeira vez ao Brasil.
A artista conta que se comoveu com os bordados feitos pelas mães das crianças em tratamento. “Eles as abrigam e as ensinam como fazer bordado de modo a manter suas mentes fora de seus problemas e também como modo de ganhar dinheiro enquanto elas esperam que a operação aconteça”, diz.
Foi aí que Hatoum decidiu que queria produzir uma obra com estas mulheres. “Eu pedi a elas que desenhassem e bordassem seus sonhos e seus desejos. O que elas sentiam que poderia tornar sua vida melhor e bordassem isso em uma fronha, que está relacionada ao sonho”, conta.
Esta obra ” Sonhando Acordado” foi produzida especialmente para essa exposição. As mães participam de um curso de bordado. “As mães desenvolveram imagens que melhor representassem seus sonhos e as bordaram nas fronhas que aqui expostas. O resultado é uma obra tocante, que revela a essência dos desejos humanos numa situação crítica” Tatiane Gusmão e Mila Milene Chiovatto