Vivian Maier – Street Photography
Descoberta por acidente, a obra da norte-americana Vivian Maier tornou-se um dos maiores tesouros fotográficos do século 20. As 100 mil fotos que a babá fez anonimamente só foram valorizadas após sua morte, em 2009, e viraram tema de filmes e livros.
Em 2007, John Maloof, um corretor de imóveis e historiador ocasional de 26 anos, andava atrás de material iconográfico para a elaboração de um livro sobre Portage Park, bairro onde vivia, em Chicago. O volume serviria para promover a região, “colocá-la no mapa imobiliário da cidade”. Na época, John também presidia uma certa Associação de Preservação Histórica do Setor Noroeste de Chicago, e passava parte de seus dias tragado por antiquários, leilões de tralhas, feiras, mercados de pulgas, aquilo tudo que o artista belga Francis Alÿs apelidou de “buracos negros da memória coletiva”.
Certo dia, na modesta casa de leilões e venda de “móveis vintage, objetos para casa, arte e antiguidades”, John esbarrou numa caixa atulhada de velhos negativos e fotografias, uma coleção de imagens urbanas dos anos 1960. Sem saber muito bem se aquilo poderia ou não ser útil a sua pesquisa, deu um lance de e rrematou o lote: 30 mil negativos, 1.600 rolos de filmes não revelados.
Foi para casa, abriu o pacote. As imagens nada tinham a ver com a vizinhança sobre a qual estava interessado -acabou não utilizando uma foto sequer no projeto do livro. Ficaram na caixa, num armário, por quase um ano.
“Vou lhes apresentar o caso mais inquietante que jamais encontrei”, John Maloof fala de Vivian Maier. Primeiro, assim, apenas um nome, num envelope, em meio a rolos de filme. Na época, Maloof não sabia praticamente nada sobre fotografia, mas quando decidiu olhar de perto o que tinha em mãos, ficou impressionado. Estava ali, diante dele, um riquíssimo panorama social de Nova York e Chicago nos anos 1950 e 1960, um olhar cheio de empatia sobre crianças e mulheres, a vida de gente simples, a experiência dos afro-americanos na cidade, bêbados, vagabundos, a face de mármore de nobres senhoras vestidas com pompa, uma freira na sombra, um homem caído e centenas de autorretratos.
A partir disso, Maloof descobriu que John, Lane e Matthew eram irmãos e filhos de uma família para quem a senhorita Maier havia trabalhado por 17 anos, os Gensburg. E descobriu também que, durante 40 anos, entre Nova York, Los Angeles e Chicago, Vivian Maier fora babá. Nascida em Nova York em 1926, filha de pai austríaco e mãe francesa, separados quando Vivian ainda era bebê, mudou-se para uma pequena cidade na França, Saint-Julien-en-Champsaur, onde passou a maior parte da infância e da adolescência. Foi lá que, em 1949, começou a fotografar, com uma Kodak Brownie, uma câmera amadora rudimentar. Não se sabe exatamente como desenvolveu essa aptidão. Alguns dizem que foi influenciada pela lembrança de uma amiga de sua mãe, a retratista Jeanne Bertrand, que conhecera pequena, ainda nos Estados Unidos. Em 1951, aos 25 anos, voltou para Nova York. Foi quando começou a trabalhar como babá -e a fotografar, compulsivamente, o que fez até o fim de sua vida.
Em 2008, Vivian escorregou e bateu a cabeça num pedaço de gelo, no centro de Chicago. Acabou não conseguindo se recuperar da queda e morreu em 2009, numa casa de repouso, aos 83 anos.
Fontes:
- Folha de São Paulo
- Revista ZUM