Poesias de Marília Bolonha Esposito, a nossa convidada.
RETRATO CALADO
E se eu plantar a flor
E a flor não desabrochar?
E se eu pintar a dor
E a cor ninguém notar?
E se eu retratar o amor
E ele não se revelar?
E se eu lhe desenhar
E o tempo lhe apagar?
E se eu fizer o meu papel
E depois me desbotar?
E se eu tentar expor,
Meu rosto falado,
Meu sangue colado,
Meu verso apagado,
Meu retrato calado,
Meu pedaço rasgado,
Meu amor inventado,
Meu roteiro acabado,
Nas galerias de vento?
Vejo a vida mudar-se intacta
Como um espelho sem rosto
No vácuo perdido do tempo,
(Fico me perguntando e vejo pessoas
nas galerias de arte procurando a vida…)
Sinto-me ainda sondável
Apenas miragem de mim
Transbordo através da poça
Vulnerável, rego-me ao vento
Ainda estou vestida de ti
Vazia de instantes
Repleta de esquecimentos
To em falta comigo
Sou tudo o que era para ter sido
Sou quem morri e continuei vivendo
Apenas miragem de mim
Transbordo através da poça
Vulnerável, rego-me ao vento
Ainda estou vestida de ti
Vazia de instantes
Repleta de esquecimentos
To em falta comigo
Sou tudo o que era para ter sido
Sou quem morri e continuei vivendo