Beatriz Milhazes- “Jardim Botânico”
Beatriz Milhazes (Rio de Janeiro RJ 1960)
Pintora, gravadora, ilustradora e professora.
“(…) Pela primeira vez, estou pensando em voz alta que, no trabalho com a cor, faço uma ligação entre vida e pintura. O carnaval – uma festa popular brasileira frenética – sempre me estimulou com seu visual, atmosfera, loucura, beleza etc.
Os desfiles, com suas combinações de cores e conceitos, são muito malucos, mas por outro lado todas essas coisas estão muito longe da pintura, do meu ateliê, do meu cotidiano. Ao contrário de Hélio Oiticica, que também trouxe referências do carnaval para o seu trabalho, eu jamais, em nenhum momento, fiz parte do mundo do samba ou do carnaval. E nunca quis fazer parte.
Sou uma carnavalesca conceitual. O mesmo acontece
com a cultura psicodélica e a religião, ainda que eu acredite em Deus.
Acho que uma caminhada na praia é a melhor maneira de conectar
geometria séria e carnaval”.
Beatriz Milhazes “Jardim Botânico”
O Pérez Art Museum Miami (PAMM) apresenta a primeira grande mostra de obras pela artista abstrata brasileira Beatriz Milhazes que abriu em setembro de 2014 e ficará até 11 de janeiro de 2015 .
A exposição intitulada Jardim Botânico conta com mais de 40 pinturas de grande escala, colagens e serigrafias dos últimos 25 anos de sua carreira. A exposição explora a abordagem distinta da artista para a pintura.
A exposição, pela primeira vez, traça o desenvolvimento de seu estilo de pintura distinta, que se caracteriza por seu uso de cores fortes, as camadas de formas geométricas e decorativas, e motivos de uma ampla gama de movimentos históricos da arte, incluindo Colonial Barroco, o Modernismo europeu e norte-americano do pop art. Jardim Botânico conta com obras nunca antes vistas nos Estados Unidos, bem como duas novas pinturas feitas especificamente para a apresentação do PAMM. A exposição destaca o processo artístico único de Milhazes em que ela usa colagens com tinta para explorar o movimento e materialidade.
Destaques da exposição incluem:
Santo Antônio, Albuquerque, 1994: Este trabalho é um dos primeiros de Milhazes em vista na exposição, e reflete seu interesse no barroco colonial através da sua incorporação de rendas, rosas, e os motivos de pérolas.
O Selvagem, 1999: O Selvagem marca uma mudança no histórico-artístico experimentação de Milhazes para norte-americano Pop Art, com a utilização de flores, corações e linhas fluidas. As formas e linhas são menos delicado e comedido do que aqueles em seu trabalho anterior.
Nazaré das Farinhas, 2002: Esta foi a primeira das obras de Milhazes para ser apresentado em uma exposição do museu dos EUA, quando ele apareceu no Carnegie International. Em muitos aspectos, um ponto a meio caminho das obras em exibição no Jardim Botânico, ele demonstra uma mistura de motivos rendas delicadas e ousadas formas menos complexas
Flores e Árvores, 2012-3: Isto marca um novo rumo na carreira de Milhazes, como a estratificação torna-se cada vez mais linear e delicado, criando efeitos ópticos que lembram o trabalho de vários mestres latino-americanos da abstração geométrica dos anos 1960 e 70..
“As instalações do museu são perfeitas para exibir as pinturas”, declarou Beatriz à Agência Efe, e disse que expor em Miami é “muito gratificante”.
Miami, disse a artista, é o “ponto de contato entre o sul e o norte da América”, uma cidade que vem crescendo culturalmente nos últimos anos, e o Pérez Art Museum é uma referencia internacional, cercado pela natureza e belas paisagens.
A exposição, que vai permanecer aberta ao público até o dia 11 de janeiro de 2015, segue uma ordem cronológica da evolução da artista, desde sua fascinação pelas cores fortes e as figuras circulares, que a caracterizaram nos anos 1990, até a incorporação das linhas horizontais e verticais.
Beatriz expôs pela primeira vez nos EUA em 1993, durante uma exibição em grupo no National Womens of Art Museum na cidade de Washington, daí continuou mostrando suas obras nos museus Guggenheim e Metropolitan de Nova York e no Carnegie Museum of Art de Pittsburgh, entre outros.
“A cor e a sensualidade” da cultura latina e a linha “estrutural e geométrica” caracterizam esta exposição, destacou para a Efe, Tobias Ostrander, organizador da mostra.
Sua obra mantém a matriz popular representada por rendas, bordados, alegorias arquitetônicas, elementos extraídos do artesanato popular e ícones da história da arte que são elevados, todos, ao mesmo status numa mistura que incorpora o processo construtivo, o espírito barroco – necessita de um mais aprofundado estudo, discussão e esclarecimento- e a sedução kitsch, compatibilizando o erudito e o popular, o sofisticado e o rústico. A cor é um elemento onipresente! Sua obra inclui também a abstração geométrica e seu referencial específico sobre o Carnaval, colagens, justaposições e sobreposições.
Relativo às afirmações anteriores, recolhemos um depoimento de Beatriz Milhazes:
“Eu me conecto mais com os anos 90 do que com os 80, porque foi nos 90 que eu achei um fio condutor para me expressar melhor…”; “A arte dos 80 era muito ligada ao pop. E eu tinha interesse nas artes decorativas, populares e na geometria. Sempre fui mais racional, tanto que só fazia umas cinco telas por ano. Depois, muitos deixaram a pintura. Eu permaneci e fiquei meio isolada no meio nacional..
Impossível determinar planos ou privilegiar uma ou outra forma, pois são pinturas que se dão por inteiro e obrigam o olhar a percorrê-las de maneira escorregadia, sem conseguir singularizar qualquer instância.
Para Beatriz, o barroco se mantém como dado cultural, mas apenas como memória arquetípica . Como emoção, está deslocado e engana motivações saudosistas. Foi sem dúvida extraído por ela de raízes profundas garimpadas do nosso tempo histórico, porém transformou-se em imagem espelhada, em simulacro que adentra e reforça o redemoinho das estruturas construtivas da obra. (…)
É uma pintura onde a reflexão rastreia plasticamente as tensões que se assentam numa aparente solidez da história, mas que se dá como uma nova percepção dos fenômenos e dos significados da criação e da expressão da arte”.
Stella Teixeira de Barros
In: BEATRIZ Milhazes. São Paulo: Galeria Camargo Vilaça;
Caracas: Sala Alternativa Artes Visuales, 1993. p. [5-6].
“(…) As pinturas de Milhazes tem também um caráter social autoconsciente. Com seus motivos de flores, contas e laços, falam da feminilidade como um modo de vida – do trabalho que as mulheres fizeram e de prazeres que desfrutaram. Mesmo sem aqueles fragmentos reconhecíveis de imagética que tecem seus caminhos pela abstração de Milhazes, nós observadores, poderíamos ainda inalar o aroma desta reminiscência, destilada pela própria padronização à qual aquelas imagens recorrem.
Mas essa padronização, não importa o quão magnífica, não tem maior relevância nas pinturas de Milhazes do que aqueles fragmentos de imagética ornamental.
Aqui tanto o padrão como as imagens estão a serviço da cor – mas a cor funciona de uma maneira tal que sua mera nomeação (que poderia dar a ilusão de que um pouco de cor é uma entidade com auto-identidade, independente cujos atributos ignoram sua interação com o entorno) é um contra-senso. Uma pintura como Milhazes nos mostra, é uma sociedade de cores, e como tal cria e caracteriza os indivíduos que a constituem. Portanto é a pintura como um todo que confere caráter a cada cor nela contida, tanto quanto ou mais ainda do que cada cor empresta certo caráter à pintura”.
Barry Schwabsky
In: MILHAZES, Beatriz. Mares do sul.
Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. p. 109 -110
“Como a pintura de Gauguin, a de Milhazes é também, a seu modo, enganosa: parece sugerir um paraíso repleto de flores e frutos exóticos de uma natureza abundante pintado em cores alegres e jubilosas, na expressão de Barry Schwabsky em texto publicado nesse livro.
No entanto, são pinturas produzidas numa cidade estereotipada pela imagem da abundância da natureza, da beleza e de um variado espectro de prazeres: o Rio de Janeiro. Mais ainda, nos últimos anos as pinturas de Milhazes também vêm sendo exportadas para importantes coleções na Europa e nos Estados Unidos. Nesse aspecto, é fundamental compreender que a pintura de Milhazes recupera para os nativos não apenas a produção de suas próprias imagens, mas sobretudo o eixo de exportação e disseminação delas entre o Sul e o Norte.
Brasileira Beatriz Milhazes está entre as 10 artistas vivas mais caras do mundo
A carioca Beatriz Milhazes chegou lá. Segundo a Artnet Analytics, a artista está entre as 10 artistas vivas mais caras do mundo. Depois que a obra “O Mágico” atingiu em um leilão da Sotheby’s, em 2008, a cifra de US$ 1 milhão, sua escalada foi rápida, com mais seis obras passando a marca dos seis zeros. É a coroação de Milhazes e de suas pinturas que lembram as formas criadas por caleidoscópio, cuja técnica consiste em aplicar tinta em folhas de plástico e depois transferir o pigmento para a tela, deixando-a sem marcas de pincel e manuseio da artista.
A exposição marca os 30 anos de carreira de Beatriz que lembra que tudo começou com a paixão pela cor amarela. Mas quem admira seus quadros percebe que nem só de amarelo vive essa artista, seus quadros são marcados por cores estridentes e há tempos viraram símbolo da arte contemporânea brasileira no mercado global. Elas são uma síntese da alegria do Carnaval recapturada com uma plasticidade reluzente.
O foco da artista sempre foi mostrar sua obra para fora do Brasil. Em agosto, ela abriu uma exposição no Paço Império, no Rio de Janeiro, depois de anos expondo e vendendo fora. A sua volta à terra natal foi notada pelos especialistas em artes e a imprensa, a conceituada revista americana Time chamou a brasileira de ‘a artista viva mais bem paga da atualidade’. E não é para menos, uma obra sua ” O Elefante Azul” foi arrematada no ano passado em New York por R$ 4,9 milhões, quatro anos depois que outra tela saíra por R$ 2,6 milhões.