DANIEL SENISE
Daniel Senise nasceu em 1955 ,no Rio de Janeiro,onde vive e trabalha com Artes Plásticas.Um dos principais nomes da”Geração 80″
Daniel Senise que é formado em Engenharia Civil pela UFRJ desde 1980, ingressou no ano seguinte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde quatro anos depois tornou-se Professor, vínculo que manteve até 1996.
Um dos principais nomes da chamada “Geração 80”, a relação de Senise com a pintura é pautada por um pensamento crítico das técnicas clássicas, em busca de novas formas narrativas e pictóricas sobre o tempo, a memória e a fragmentação do mundo material.
Em seu trabalho , o artista aplica uma gama de recursos para deslocar a figuração e outros elementos tradicionais da pintura, como a relação entre figura e fundo.
Sua paleta fechada de cores surgidas a partir de materiais como prego oxidado,pó de metal, alumínio, madeira, laca ,cimento, papéis e tecidos, colabora paradoxalmente para que sua pintura se amplie em múltiplos sentidos.
Desde a última década , explora a temática da arquitetura e a tridimensionalidade de suas perspectivas no plano bidimensional, criando ângulos improváveis em salas vazias e monocromáticas, inventando um construtivismo pessoal em andaimes caóticos e grades enganosamente cartesianas.
Sua obra se desdobra em experiências materiais, como as pinturas-colagens de páginas de livros de arte, para dali se expandir em esculturas e instalações de tijolos e chapas de papel reciclado.
Soft and Hard, 2007, 250x465cm.
Todo o trabalho de Senise se vai compondo num corpo crescente, coerente e único, que habita o silêncio intemporal onde tudo jamais acontece, onde todas as coisas são esboçadas, pressentidas, pensadas. Este ambiente fora da história apresenta-se com uma carga arquetípica, representativa de uma arqueologia do tempo onde pontua efémera a circunstancial e frágil ação humana do pensamento.
Nalgumas das suas obras a conversa impossivel entre estes dois planos, o Tempo Absoluto e a Ação do Homem no Mundo, parece querer resolver-se, encontrar uma síntese, uma resposta; ou talvez melhor, explicar num só lugar/objeto a impossibilidade de um encontro de fato.
No início da carreira Daniel Senise produz obras com paisagens povoadas por formas volumosas, que ocupam a quase totalidade da tela.
Piscina 2, 2003, 185x290cm.
Tecido em colagem sobre madeira
Eva 2009
Mas uma obra do artista se impõe em particular neste contexto, ao resumir de forma dramática e brilhante a subjugação silenciosa e nunca resolvida que o tempo absoluto impõe ao homem. Eva, instalação de 2009 apresentada no Centro Cultural de São Paulo, coloca entre quatro paredes a escultura de Victor Brecheret do mesmo nome. Estas paredes são feitas de tijolos de catálogos e convites reciclados, e vão crescendo gradualmente ao longo dos dias até taparem por completo a figura humana, aprisionando-a até do olhar exterior. Se Eva simboliza a primeira mulher, o arquétipo da fertilidade, a mãe de toda a humanidade e a responsável pelo impulso que levou Adão (Homem) a comer a maçã da árvore do conhecimento; as paredes representarão claramente o inalterável avançar do tempo, o passado, o enorme branco que engole a história e reduz a patéticos pontos coloridos as palavras, as datas, os acontecimentos, as ideias e as aventuras que o homem continuamente persegue na sua ânsia de existir.
Eva 2009
Porém, se o Passado se vai impondo inexorável a todas as coisas presentes na vida do homem, também de Futuro se faz a sua reflexão e acção na vida. As estruturas que vamos encontrando ao longo desta imensa obra parecem remeter para as projecções que vamos fazendo na luta contra o tempo, revelando esse plano como um ensaio para um futuro feito de ideias, conquistas e projectos. Apesar da consciência da sua finitude e do efémero de tudo o que cria e representa, o Homem continua a sonhar, a projectar, a construir; crente que nesse movimento pleno de Vontade de Infinito se vai esquivando à maquinação suprema do Tempo. Estas construções mais ou menos ordenadas contam da semente caótica mas profícua que germina da vontade humana.
Prodrome III, 2010, 100×155 cm
Assim, longe de derrotado, o Homem parece querer continuamente enquadrar na sua vida feita de efémero e transitório todo o tempo possivel, ignorando a lei superior do Tempo Absoluto – que o suspende e lhe concede apenas um breve momento de existência no seu oceano gigantesco de Infinito. Seremos pequenos sobreviventes de um lento e contínuoacidente permanente, empenhados nessa luta corajosa pela vida.
Quase aqui, 2011, 140×190 cm
2 comments
Que bom ler seu artigo. Você sabe transmitir conhecimento de uma forma agradável.
Fico feliz com seu comentário Elisabeth!!! Muito obrigada, bjs Jussi
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