Museu Casa De Leon Trotsky, México e seus últimos dias contados por Esteban Volkov, seu neto.

História, Museus

O intelectual e revolucionário bolchevique León Trotsky, expulso do Partido Comunista Soviético e forçado ao exílio, foi começar vida nova no México. Perseguido pelos assassinos de Josef Stálin, no entanto, Trotsky foi morto na Cidade do México.

Trotsky foto melhor com o coelho

Escolhi um depoimento do neto de Trotsky, Esteban Volkov, ao programa Witness da BBC para ilustrar as fotos do Museu. Ele estava com o avô quando ele morreu, e relembrou as emoções sentidas naquele dia. Como o meu objetivo é mostrar a Casa/Museu, só darei uma pincelada em seus últimos dias através da voz de seu neto e também exibirei algumas fotos de Trotsky com Diego Rivera, Frida Khalo e André Breton.

 

Trotsky e o neto foto maior

“Para alguns, León Trotsky foi o verdadeiro herói da Revolução Bolchevique de 1917, que derrubou o czarismo russo e culminou com a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Para outros, Trotsky foi um dos homens mais perigosos de sua era.

Mas para Volkov, o revolucionário soviético foi uma figura paterna, que deu ao neto momentos raros de estabilidade e alegria em um período de tumulto na vida familiar em meio a um ciclo de perseguições políticas.

Eu estava constantemente trocando de figuras paternas e maternas, contou Volkov, hoje com 86 anos. Com o “velho” – a forma carinhosa como se refere ao avô – “eu finalmente encontrei algo estável, ainda que não tenha durado muito”.

Trotsky Portão de Entrada Lacrado
Portão de Entrada sempre lacrado, foto Internet

“Falando da casa na Cidade do México onde viveu por mais de um ano com Trotsky e sua segunda esposa, Natália, até o assassinato, Volkov lembrou da empolgação que sentiu ao chegar à América.

Ele tinha apenas 13 anos e havia passado a maior parte de sua infância se mudando de um país para o outro com a mãe, Zinalda – filha de Trotsky – procurando refúgio contra a perseguição de Stálin, com quem Trotsky disputou o poder após a morte de Vladimir Lênin.”

Trotsky parte do jardim
Parte do Jardim

“O México foi uma mudança absoluta, era cheio de cores, sol. Tão diferente da Europa”, disse. “Comecei a ir para a escola sozinho, a pé. Ninguém na escola sabia quem era a minha família.”

A vida na casa grande e bem protegida por guardas no bairro arborizado de Coayacan era “cheia de diversão”.

Trotsky casa dos guardas e torre de vigilância
Casa dos Guarda e Torre de Vigilância

Trotsky passava o dia escrevendo, sendo entrevistado por jornalistas ou discutindo política com militantes estrangeiros e guarda-costas que viviam com a família.

Trotsky escritório.
Escritório. Foto da nossa correspondente no México.

 

trotsky mexico

Durante as refeições, o jovem escutava atentamente as piadas e discussões acaloradas à mesa. Aos outros, no entanto, o avô dava ordens expressas de que não falassem de política na frente do menino

Trotsky sala de comida
Sala de Refeições, foto da nossa correspondente no México

“Sua famíla inteira havia sido assassinada, ou morrido por causa da política, e eu acho que ele queria que seu neto sobrevivesse.

O pai de Volkov, genro de Trotsky, havia sido enviado a um gulag – nome dado aos campos de prisioneiros soviéticos -na década de 1930. Sua mãe, Zinalda, havia cometido suicídio quando eles viviam no exílio em Paris.”

Trotsky falando do galinheiro

“Volkov contou que todas as manhãs o avô se levantava cedo para cuidar de suas plantas e animais antes de se fechar no escritório.

Eu o ajudava a alimentar os coelhos e galinhas, e a regar o milho. Os dois conversavam em francês, porque o menino havia perdido a habilidade de falar russo, sua língua materna.

Eles também faziam, regularmente, passeios para fora da cidade, com a família e os amigos reunidos em vários carros. Uma vez no campo, o “velho” passava horas procurando cactos ou conversando com os camponeses mexicanos sobre suas vidas.”

Trotsky com Frida
“O exilado Leon Trotsky com seus 58 anos, e sua segunda esposa, Natalia Sedova foram para Tampico, México, onde o muralista trotskista Diego Rivera e Frida Kahlo moravam. Diego havia lhe oferecido asilo político. Diego não pode ir para o primeiro encontro com os trotskistas pois estava doente, mas sua jovem mulher, Frida Kahlo compareceu. Frida conheceu os jornalistas, comunistas e oficiais de governo.”

 

Trostsky André Breton, Rivera, Trotsky et Jacqueline, 1938
André Breton, Diego Rivera, Trotsky e Jacqueline

 

Trotsky aparece ao lado de sua mulher, Natalia, e seu neto, Volkov, no México
Natalia, sua mulher e seu neto Volko

“Para Volkov, esses foram dias de relativa normalidade e de uma vida familiar que ele não tinha conhecido anteriormente. Mas tudo isso viria a terminar repentinamente.”

Trotsky no galinheiro

 

Primeira tentativa de assassinato:

Às 4h da manhã do dia 24 de maio de 1940, o jovem acordou de sobressalto: atiradores enviados por Stálin haviam invadido a casa.

Volkov saltou da cama e se escondeu em um canto do quarto. Com balas ricocheteando pelo cômodo, Volkov foi ferido no pé. Os guardas de Trotsky reagiram e conseguiram espantar os atiradores, que fugiram.

Trotsky e Natália escaparam ilesos. “Se eu fiquei assustado? No começo sim, mas assim que ouvimos a voz do meu avô, cheio de vida, bem, é difícil de descrever nossa felicidade por havermos escapado dos homens de Stálin.”

Trotsky banheiro
Foto da nossa correspondente no México

 

Trotsky banheiro internet
foto Internet

 

Trotsky radio
Foto da nossa correspondente no México

Segunda Tentativa

Depois desse incidente, Trotsky raramente saía de casa e a segurança ficou ainda mais rigorosa, com mais guardas e mais armas. As viagens para o campo foram abandonadas.

“Logo me acostumei a viver naquelas condições”, diz o neto.

Mas a pergunta na cabeça de cada um era: De onde viria o próximo atentado à vida de Trotsky?

Trotsky cozinha
Foto da nossa correspondente no México

 

Trotsky 1
Foto da nossa correspondente no México

 

Trotsky biblioteca
Biblioteca

Os acontecimentos do dia 20 de agosto de 1940 ficaram gravados na memória de Esteban Volkov.

 

Trotsky arma do crime
Arma do crime

 

O assassinato

A arma usada para matar Trotsky foi um utensílio pontiagudo e afiado utilizado por montanhistas para quebrar gelo

Mercader, o stalinista infiltrado, havia encurtado o cabo do quebrador de gelo de forma a entrar na casa com o objeto escondido

Após sua morte, o coração e o cérebro de Trotsky foram removidos

Concluiu-se que o cérebro do revolucionário tinha peso acima do normal

Foi nesse dia que Ramón Mercader, um agente stalinista de origem espanhola que havia se infiltrado na casa de Trotsky, feriu fatalmente o líder bolchevique ao atingir sua cabeça com um utensílio de quebrar gelo.

Falando lentamente, tomando cuidado para não omitir nenhum detalhe, Volkov contou que ao retornar para casa, a pé, depois da aula, notou que a porta da casa estava aberta. Um carro da polícia estava estacionado do lado de fora.

Cheio de temor, correu para dentro. Os guardas estavam consternados.

Antes de ser afastado do local, viu o avô de relance, deitado no chão do escritório, sangrando muito. Natália estava ao seu lado.

“Não deixe o menino ver isso”, Trotsky teria dito a ela. Ele morreu no dia seguinte, no hospital.

O menino ficou tão perturbado que se recusou a ir ao enterro do avô. “A atmosfera na casa ficou muito, muito solitária depois daquilo”, ele disse.

Após a morte de Trotsky, Volkov continuou vivendo no México com Natália. Ele foi para a universidade, formou-se químico, casou-se e criou quatro filhas – algo que trouxe muito conforto para Natália, de luto pela perda do marido assassinado.

Ela morreu em janeiro de 1962. Volkov, hoje também viúvo, transformou a antiga casa da família em um museu.

Honrar a memória do avô, ele explicou, é o seu “dever”.

Trotsky mais marcas de tiro na parede
Corredor com tiros na parede

 

Trotsky quarto de dormir com tiros na parede
Quarto de Dormir com tiros na parede

 

Trotsky sangue no chão

frida e carta s

O romance de Frida e Trotsky fica para um outro artigo.

“Ainda ferida pela descoberta das traições de Diego com a sua irmã Cristina, Frida não perdeu tempo em flertar com Trotsky. Naquele verão, seu affair se consolidou em algo. Alguns encontros clandestinos do casal foram na casa de Cristina, a irmã vacilona de Frida. Ambos conversaram em inglês na frente de seus esposos, língua esta, era incompreensível no caso de Natalia. Trotsky também mandou cartas de amor para Frida dentro dos livros que emprestou a ela.” Pedro Pezte

 

 

 

 

 

 

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